António Morgado é vice-campeão mundial

2022-09-26

António Morgado é vice-campeão mundial

O ciclista do Bairrada Cycling Team, que deu espetáculo ao longo de toda a corrida, com inúmeros ataques, perdeu a prova ao “sprint” para Emil Herzog

António Morgado, ciclista dos quadros do Bairrada Cycling Team, mas que na próxima época vai representar a equipa norte-americana da Hagens Berman Axeon, conquistou, na madrugada de ontem, a medalha de prata na prova de fundo para juniores do Campeonato do Mundo de Estrada, em Wollongong, na Austrália.

Portugal prometeu discutir a corrida de 135,6 quilómetros pelo seu maior talento e cumpriu. A Seleção Nacional acelerou a corrida na primeira das oito voltas ao circuito australiano, promovendo a primeira triagem de valores.

A partir da terceira volta começou o “festival” de António Morgado. O português desferiu inúmeros ataques, eliminando adversários atrás de adversários. As movimentações mais fortes de Morgado foram-se sucedendo a cada passagem no ponto mais duro do traçado, a subida do monte Pleasant (1.100 metros com inclinação média de 7,7 por cento e troços acima dos 10 por cento).

Na penúltima passagem por essa dificuldade, o chefe-de-fila de Portugal desferiu um ataque poderosíssimo, que deixou o grupo da frente com cerca de dez unidades. Não satisfeito, o ciclista atacou novamente, a 18 quilómetros da meta, na entrada para a última volta.

Desta vez, o ciclista natural das Caldas da Rainha isolou-se e teve legítimas esperanças de conquistar a camisola arco-íris, pois chegou a dispor de mais de 20 segundos sobre os rivais mais diretos. Só que o alemão Emil Herzog, que também se mostrou muito forte, aproveitou as zonas mais rápidas para conseguir juntar-se ao português, quando faltavam apenas três quilómetros para a meta.

A discussão do título ficou, então, guardada para um “sprint” a dois. Aí, ao fim de 3:11.07 horas de prova (média de 42,6 km/h), o germânico foi mais forte. António Morgado foi o segundo classificado e conseguiu o melhor resultado de sempre para Portugal em provas de fundo para juniores dos Mundiais de estrada. O terceiro classificado, a 55 segundos, foi o belga Vlad van Mechelen.

O também ciclista do Bairrada, Gonçalo Tavares, que fez praticamente toda a corrida no grupo dos favoritos, foi o 18.º, a 2.48 do duo da frente, enquanto que o seu colega de equipa, Daniel Lima, foi 38.º, a 11.50 minutos. Tiago Nunes foi 58.º, a 13.31 minutos e José Bicho não terminou a prova.

José Poeira impressionado com António Morgado

«O António Morgado fez mais uma grande corrida. Em todos os anos que já levo como selecionador – e passaram pelas minhas mãos todos os melhores corredores portugueses dos últimos anos –, nunca vi, em júnior, um ciclista capaz de fazer o que o António faz. Aquilo que hoje [ontem] todos puderam ver pela televisão, ele faz sempre. São demonstrações de força impressionantes”, fez questão de vincar o selecionador nacional, José Poeira.

Lendo a corrida da madrugada de sexta-feira, o responsável técnico considera que António Morgado fez bem em atacar de longe… “Eliminou logo muitos adversários e garantiu uma medalha. No “sprint” poderia ter arrancado um pouco mais tarde, explorando mais a roda do alemão, mas o desempenho global é excelente”, vincou.

Reacção

“É um orgulho [ser vice-campeão mundial]. Isto foi o recompensar de um trabalho feito a época toda. Claro que estou um pouco frustrado, estive perto de ser campeão do mundo, mas tenho tempo para conseguir isso. Não foi fácil. Naqueles momentos a seguir à corrida, tive ali um impacto um bocado negativo, pois trabalhei o ano todo para tentar conseguir o título mundial. Estava nas melhores condições, tinha tudo à minha frente e não consegui levar o título para casa. O “sprint” não me favorecia, era um “sprint” a descer, em que se tinha de “sprintar” com cadência, e eu gosto de “sprints” com ligeira inclinação

«O António Morgado era o atleta mais forte que ali estava»

Henrique Queirós, treinador de António Morgado no Bairrada Cycling Team e que já treinou, entre outros, João Almeida, os gémeos Oliveira e Maria Martins, nomes sonantes do ciclismo nacional, não ficou surpreendido com a prestação do novo vice-campeão mundial, muito pelo contrário. «Queríamos ser campeões do mundo e esse sempre foi um objetivo pelo qual trabalhámos durante a época», começou por vincar o técnico, que gostou da «garra» demonstrada por António Morgado, mas considera que, num Campeonato do Mundo, «taticamente tem que se trabalhar um pouco diferente», referindo-se ao desgaste, que considera ter sido desnecessário, que o seu atleta teve na fase inicial da corrida. «Trabalhou muito bem e andou muito bem mesmo. Ele é assim, ataca muitas vezes, mas, nesta prova, devia ter “gasto as balas” mais tarde. Sabíamos que íamos para ser campeões do mundo. Foi nesse sentido que trabalhámos em várias corridas lá fora. A equipa esteve muito bem - o Daniel e Gonçalo estiveram super-bem -, mas para ser campeão do mundo há pormenores que temos trabalhar melhor e ser mais frios. O António devia ter-se resguardado mais, mas é a sua irreverência e a energia que gastou fez-lhe falta nos metros finais», analisou o treinador.

Henrique Queirós não tem dúvidas: «O António Morgado era o atleta mais forte que estava ali. Todos o sabiam. Quando vamos para a prova para sermos campeões do mundo, não é para ser segundos...», disse o treinador, que enalteceu «o papel do Bairrada Cycling Team, que proporciona aos seus atletas várias experiências internacionais». «Hoje, toda a gente está contente com o segundo lugar, eu se calhar sou o único que não estou. Tinha a esperança que fossemos campeões do mundo», concluiu Henrique Queirós.

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