2024-08-13
João Almeida ressuscitou o ciclismo português. Quase que se pode dizer que está para a modalidade como o Ronaldo está para o futebol, no que a levar a nossa pátria além-fronteiras diz respeito.
Estávamos em 2020, em plena pandemia, mas o ciclismo português vivia um sonho cor de rosa. A camisola era dele e assim foi durante 15 dias. Um espetáculo, uma magia bonita de se viver. Poucos conheciam João Almeida e ele pouco conhecia o que era o Giro, mas nessa "grande volta", nasceu um voltista e um montanhista.
Em Portugal abriam-se telejornais e capas de jornais com a foto de Almeida. Os portugueses voltavam a reviver o tempo do glorioso Joaquim Agostinho e voltavam-se a apaixonar pelo ciclismo.
Esta paixão transmite-se de imediato às camadas dos ciclistas mais jovens, e aos profissionais, e aos amadores, que transmitem aos pedais uma força extra motivada pelo jovem de então 22 anos. Depois àqueles todos que andam de bicicleta, porque andar de bicicleta é fixe, é liberdade, faz bem à saúde e até temos um corredor que veste de rosa.
Em 2024, João Almeida volta a afirmar-se como um voltista. Um senhor voltista, digo.
Desta vez no aclamado Tour, vulgo “Volta à França”. E merece o respeito do pelotão, impõe-se dentro da gigante equipa da Emirates, trabalha para o seu líder, mas ao mesmo tempo destaca-se nas etapas, acabando por ficar em 4.º lugar da Geral. O 4.º melhor na principal prova velocípédica do planeta. É que há os Jogos Olímpicos, os Campeonatos do Mundo e depois há o Tour de France, o palco principal deste desporto.
O ciclismo volta a estar em destaque em Portugal, catapultado pelas televisões, jornais e rádios (os verdadeiros e credíveis orgãos de massas) e João Almeida é o grande responsável. Os media olham para o desporto com curiosidade e fascínio, procuram por histórias e atletas que parecem ser de outra dimensão, que rejeitam haver limites, que devoram quilómetros como motas e sobem montanhas como se estivessem num passeio.
Tudo no ciclismo ganha outra vida. Mesmo a Volta a Portugal que se tinha tornado enfadonha, renasce das cinzas este ano e aparece na ribalta. Ouço na rádio, leio em jornais e sites, a admiração do preço de uma bicicleta que vai correr um contra-relógio. Pergunta-se como é possível a resistência humana destes ciclistas que fazem etapas de 160 e 180 kms vários dias a fio. Aparecem comentadores e especialistas, dá-se voz a quem está na modalidade.
Recentemente estive na Maratona dos Dolomites, em Itália, numa das provas amadoras mais importantes do ciclismo, se não a maior. O ambiente é desenhado por mais de 10 mil ciclistas, que no dia da prova percorrem as várias montanhas daqueles Alpes Italianos. O dorsal dava relevo ao sobrenome. O meu é Almeida e era esse que aparecia em grande nas minhas costas. O fenómeno João Almeida chegava também àquelas paragens e era audível em várias línguas. Com ritmos diferentes entre os milhares de atletas, eu lá ia passando muitos deles mais lentos e ouvia tantas e tantas vezes, em sotaques diferentes: “Vai Almeida”, “GO Almeida”, “Andare Almeida”. Que força que me deram. É bom ser ciclista. É bom andar de bicicleta. Obrigado João Almeida.
E agora venha a Vuelta, que até começa em Portugal já no dia 17 de Agosto, e queremos mais disto que nos enche a alma. E aí, voltamos todos a ser ALMEIDA.
Foto: UAE Emirates - Luca Zennaro - EPA
VOLTARIvo Almeida
No ciclismo de estrada encontrei prazer, diversão e sofrimento, no mesmo desporto. Isso apaixona-me.