Marisa Ferreira conquista título... com a bicicleta à mão

2021-08-24

Marisa Ferreira conquista título... com a bicicleta à mão

A jovem aveirense é campeã nacional de contra-relógio após uma prova de emoções fortes, em que teve, após um imprevisto, que, literalmente, correr para a vitória

Todos os títulos ficam para a história. Mas há momentos que se tornam verdadeiramente inolvidáveis, que nunca irão sair da memoria de quem os viveu ou assistiu e Marisa Ferreira proporcionou um desses na prova de contra-relógio do Campeonato Nacional de Juniores, que teve lugar no último sábado, em Sernancelhe (Viseu).

A jovem aveirense de 18 anos, que representa a Efapel/Escola de Ciclismo de Águeda, estava a confirmar o estatuto de candidata e seguia que nem uma bala para a meta quando o azar lhe bateu à porta. Com a entrada numa estrada de paralelo, a corrente da sua bicicleta saiu a cerca de 50 metros da meta. Sem tempo a perder, o seu esforço individual continuou... em corrida e com a bicicleta à mão.

Marisa Ferreira terminou os exigentes 14.8 quilómetros da prova em 24.56 minutos (média de 34,5 km/h), tempo que lhe dava o primeiro lugar na altura, mas ainda faltavam chegar algumas ciclistas. Marisa Ferreira teve, então, que esperar, esperar e “sofrer”. Mas, o seu esforço, desta vez, teve um final feliz. Por pouco mais de um segundo acabaria mesmo por se sagrar, pela primeira vez, campeã nacional. Mariana Líbano (Velo Performance/JS Campinense), que quase estragou a festa da aveirense, foi segunda, e Beatriz Pereira (Bairrada) cortou a meta com o terceiro melhor tempo, mas já com 42 segundos de atraso.

Este era um título que Marisa Ferreira perseguia a algum tempo, ela que, nos nacionais de contra-relógio, já tinha subido ao pódio mais do que uma vez, mas nunca ao lugar mais alto. Foi, por todos os motivos referidos e mais alguns, “um título muito especial”.

“A prova terminava numa subida em paralelo. Saiu-me a corrente nos últimos 50 metros e eu tive que sair da bicicleta e correr até à meta. Na altura foi o que pensei que fosse mais rápido. Num contra-relógio o que interessa é o tempo final e o que me passou pela cabeça foi ‘tenho que chegar o mais rápido possível’ e levei a bicicleta à mão”, recorda Marisa Ferreira, que, por estar nos metros finais, já não tinha o carro de apoio atrás de si.

 

“Não podia ter ficado mais contente e realizada”

Apesar de ter terminado dentro do tempo que estipulou (entre 24 e 25 minutos), que “sabia” que lhe daria medalha, face ao tempo perdido ficou, de certa forma, “surpreendida por ser primeira” na altura, mas, por outro lado, estava consciente que “as outras ciclistas candidatas ainda estavam por chegar”, pelo que, confessa, “estava com medo de não conseguir”.

Após a última atleta cortar a meta, teve, obviamente, uma explosão de alegria. “Depois do imprevisto que tive não estava a contar segurar o primeiro lugar, pelo que não podia ter ficado mais contente e realizada”, assume Marisa Ferreira, que revelou que o contra-relógio é uma especialidade do seu agrado e que ser campeã foi um objectivo para o qual apontou no início da época. “Tinha sempre conseguido fazer pódios, mas nunca tinha chegado ao primeiro lugar. Então, este ano, ou era, ou não era… É o meu último ano de júnior e coloquei essa fasquia, mas sabia que tinha que treinar muito para o conseguir. Estou muito feliz por ter concretizado esse objectivo”.

E, para que não restem dúvidas, é mesmo o treino que está por trás desta conquista. Num desporto que não tem muitas praticantes no sector feminino, apesar de se registar uma evolução, Marisa Ferreira treina cerca de 15/16 horas por semana, sendo que este ano já cumpriu mais de 7.600 quilómetros em cima de uma bicicleta, um gosto que ganhou por influência familiar. “O meu irmão começou a competir e eu ia com os meus pais ver as corridas. O bichinho começou aí. Gostava de ver e houve um dia que um mecânico da equipa dele que me convidou a experimentar”. E experimentou. Gostou e o que se seguiram foram vários anos de esforço, de muitos quilómetros na estrada e bons resultados, que culminaram no último sábado com a épica conquista do título nacional de contra-relógio.

 

Segue-se a Taça das Nações em Espanha e a Volta a Portugal

 

Para Marisa Ferreira, a época ainda não terminou. No próximo fim-de-semana vai integrar a Seleção Nacional que irá competir na Bizkaikoloreak, prova da Taça das Nações de Juniores, que vai realizar-se no País Basco (Espanha). Será a primeira vez que Portugal irá participar numa corrida do circuito mundial de estrada para juniores femininas. “Não é a primeira vez que vou representar Portugal, mas é sempre especial. A expectativa é dar o meu melhor para ajudar a equipa ao máximo, mas sei que vão ser dois dias muito duros”, perspectiva a atleta que, para além do contra-relógio, gosta de etapas com subida. “Não estava à espera de ser convocada e até pensei que fossem menos atletas, mas sempre dei o meu melhor desde o início da época. Tenho feito bons resultados, sei disso, mas não deixou de ser uma surpresa”, garantiu.

A jovem irá, ainda, entre os dias 2 e 5 de Setembro, disputar a primeira edição da Volta a Portugal Feminina, onde, na penúltima etapa, terá um contra-relógio… “É verdade que vão estar muitas atletas estrangeiras presentes, mais velhas, mas vou para a prova para dar o meu melhor e para honrar a minha camisola de campeã nacional de contra-relógio”, garantiu ao Diário de Aveiro.

 

Bairrada Cycling Team faz o pleno

 

No Campeonato Nacional de Estrada para cadetes e juniores masculinos e para cadetes, juniores e masters femininas, que decorreu em Sernancelhe, a formação de juniores masculinos do Bairrada Cycling fez uma competição à parte.

No sábado, na prova de contra-relógio, colocou três dos seus corredores no pódio dp escalão de juniores. António Morgado, ciclista natural das Caldas da Rainha, que está a realizar uma época fantástica, foi coroado campeão nacional, com o tempo de 25.42 minutos, superando o seu colega de equipa, Gonçalo Tavares, que demorou mais 22 segundos para cortar a meta, ao passo que Rúben Rodrigues foi terceiro, a 39 segundos do vencedor.

No domingo, a equipa bairradina voltou a fazer o pleno na prova de fundo. O ataque que daria a vitória ao vimaranense Rúben Rodrigues ocorreu quando faltavam cerca de 50 quilómetros para o final. O corredor do Bairrada deixou os adversários para trás, conseguindo manter uma vantagem superior a um minuto e meio para o grupo perseguidor.

Nos últimos quilómetros, foi alcançado pelo colega de equipa António Morgado, que atacou no grupo perseguidor. Os dois chegaram juntos à linha de meta, de braços erguidos, celebrando o trabalho da equipa e do enorme esforço do novo campeão nacional durante a prova. Gonçalo Tavares chegou no grupo seguinte, no qual foi o mais rápido ao “sprint”, após 122, 5 quilómetros de prova, garantindo, dessa forma, que o pódio voltaria a ser unicamente preenchido por ciclistas da formação bairradina.

Texto: Diário de Aveiro (Hugo Filipe Santos)

Foto: D.R.

VOLTAR

Últimas Notícias